sexta-feira, dezembro 17, 2004

Boletim de Vacinas

Chegas-te! Disseste olá e cumprimentaste-me com dois beijos! Por essa altura eu ja estou completamente a tremer e ao minimo gesto teu, tenho a certeza que caio! Conheço-te desde sempre e nunca pensei que a tua simples presença viesse a ter semelhante impacto em mim. Nao me lembro de tremer quando te sentavas ao pé de mim na escola primária, e tambem nao me lembro de tremer quando passavas por mim no ciclo! Penso que esta história toda do tremer veio com o secundário! Acho que tudo veio com o secundário! A historia do tremer, a historia do chorar, a historia de passar a ser fria e chegar mesmo a ser cruel! Tudo por causa da tua simples e insignificante existência. Ok... Pelos vistos nao é assim tao simples e insignificante porque se o fosse, eu ja estaria curada desta doença que tu és! E sabes que mais? Acho que se enganaram no centro de saude quando disseram que eu tinha as vacinas em dia! Se tenho o raio das vacinas em dia,porque e que sempre que apareces os sintomas reaparecem e eu me sinto doente outra veZ? Acho que tenho que lá voltar para ver se elas têm a certeza do que estão a dizer. Já passaram cinco anos desde que fui na tua conversa pela primeira vez e desde aí nunca mais fui a mesma. Mudei!Claro que mudei, tornei-me mais estúpida! E é essa parte que eu nao percebo. Dizem que as pessoas aprendem com os erros! Eu nao aprendo. Digo sempre que nao vai haver proxima vez! Mas há sempre, e isso revolta-me!Eu nao consigo perceber o que é que tu tens de especial! Nao consigo mesmo! Há para aí homens muito mais giros e muito melhores que tu! Mas acho que nenhum me diz o que tu me dizes, e nenhum me consegue fazer arrepiar ao respirar perto do meu pescoço! Acho que isso é o que te distingue de todos os homens giros e simpaticos! Essa tua maneira muito própria de ser! Essa tua «pseudo» arrogância, essa tua ironia estupida, que so consegues usar nos primeiros dez minutos de conversa, mas que ao fim de algum tempo, cansa-te e deixas-te de ironias e arrogâncias e começas a ser tu! E é isso que me aterroriza! È que enquanto tu estas a ser ironico eu ainda consigo resistir.te mas depois...! Claro que isto dura um dia ou dois porque tu depois voltas para Coimbra e só te lembras da vizinha no proximo fim de semana ou so no mes que vem! O pior é quando o fim de semana chega e tu não te lembras! Mas o pior nem é isso. O pior é que quando eu finalmente começo a esquecer-me da tua existencia, tu voltas e baralhas o boletim de vacinas todo outra vez. MAs eu vou deixar de estar doente! Vou lembrar dos medicamentos e vou lutar contra a doença porque felizmente esta tem cura! Espero é que os medicamentos nao tenham efeitos secundarios, porque ja me basta sofrer com a doença, nao quero sofrer tambem com a cura! Vais-te embora! Despedes.te com dois beijos. Por essa altura eu ja caí.
Sofia

Só numa Multidão

"Nunca se sentiram sós no meio de uma multidão!? Sempre me senti assim a vida inteira - uma peça anónima no meio de milhares de peças soltas pela cidade. Sempre me senti assim a vida inteira - Só. Enredada na minha teia. Fechada numa gaveta com milhares de pensamentos e ideias. Afogada na minha própria tristeza. Nunca se sentiram sós no meio de uma multidão? Sempre me senti assim : emparedada nos meus problemas! Afinal, não é como todos nós nos sentimos!?"

Carregar Pianos

« Há várias formas de levar uma relação para a frente - dizia o Luis enquanto preparava um sanduiche de queijo e fiambre, depois de chegarmos da praia- Eu, por exemplo, ponho-me a jeito e deixo-me ir. O tempo vai-me dando indicações subtis e de facto um entusiasmo inicial pode ou não levar a qualquer coisa mais consistente e nem sequer penso o que é que vai ser. A isso, os Americanos que têm grande sentido prático e são bons em expressões, chama dar um let go. Mas tu não. Passaste a vida a carregar pianos. Pois passei. A vida toda. Desde o dia em que me apaixonei pelo palerma da terceira classe, depois pelo primo direito da minha amiga Paula, depois pelo Miguel que não me ligava nenhuma e passava o tempo a jogar futebol e ténis. E depois, por mais meia dúzias de caramelos a quem tive o azar de achar alguma graça. Paixões de adolescência, começam do nada e acabam em nada porque não valem nada, a não ser enquanto duram, ás vezes com a vida mais curta do que uma mosca. Paixões impossíveis que nos tiram o sono e o apetite, nos põem a contar estrelas e a escrever poemas pirosos, nos fazem rezar mesmo quando já deixámos de ir á missa desde os onze, nos adoçam o coração e o olhar e enchem a almofada de água salgada quando as coisas correm mal, ou pior, não correm. Depois uma pessoa cresce e habitua-se a sofrer. A esperar. A sonhar um bolo gigante a partir de três migalhas. A acreditar no impossivel , a desejar o impensável. A querer que aqueles que amamos nos tragam o mundo numa bandeja. A isto chamamos carregat pianos. Até ao dia em que uma pessoa se cansa, baixa os braços, olha para o piano, encolhe os ombros e diz basta. Basta de espera, de obrigação, de sonhos , de promessas, de palavras mágicas e inconsequentes . Basta de promessas de amor , de castelos de areia, de adiamentos e hesitações, de ausências e de dúvidas. E depois, o mundo vai abaixo. As casas, os prédios, as pontes, tudo se defaz num estrondo imenso e assustador, que faz quase tanto barulho como um coração a bater com a porta. E como é o nosso coração que está a bater a porta, ainda custa mais. E sentimo-nos a desmanchar por dentro. Não é a partir, é só a desmanchar, como se nada tivesse forma ou fizesse sentido. E o piano está ali mesmo em frente, á espera de ser carregado. Dá vontade de pegar num martelo e de o destruir de raiva. Dá vontade de abrir e tocar meia dúzia de notas. Dá vontade de descansar sobre ele e falar-lhe baixinho, ao ouvido das cordas, para lhe explicar o que se passa. Que o cansaço já está acima do sonho , que o medo está acima da força, que a vontade comanda a vida, mas não o amor. Explicar que o tempo há-de trazer nos ventos a indicação de um caminho qualquer para onde o piano possa ir sem ser carregado. Carregar pianos. Escada acima, quatro andares sem elevador. As costas doem, os braços tremem, as curvas na escada são uma equação impossivel de resolver, tudo é dificil , tudo é inglório. E o amor transforma-se numa luta, num sacrificio, somos mártires da nossa loucura, flagelados pela nossa obstinação e teimosia. E o pior é que quando chegamos ao fim da batalha, e o piano tá lá em cima, não era naquela sala, nem era aquela pessoa. Carregar pianos. Para quê se quase todos têm rodinhas?! Não é desistir, é só mudar de vida e esperar que ela nos traga o que mais precisamos, sem partir as costas nem torcer os braços. E geralmente até traz!»
Margarida Rebelo Pinto

Hello

Just to say Hi...
Nao tenho muito jeito para estas coisas de escrever, portanto isto nao vai ser propriamente um blog para eu por textos meus... É mais uma espécie de conjunto de textos que gosto.. Porem, ocasionalmente poderá haver qualquer coisa minha...
Quando isso acontecer, I´ll Let you know.
Thanks
=)
Sofia