sábado, janeiro 29, 2005

" Agora imagina : estás no último piso do prédio mais alto do mundo e por baixo de ti só uma emboscada de fogo, labaredas a devorarem escadas na tua direcção. Lá fora, se partires os vidros, abre-se o mundo todo num ceu azul, para um precipicio mais fundo do que possas imaginar. Por isso imagina : não se trata de escolher entre a vida e a morte, tens de escolher como vais morrer.
Posso garantir, um ano depois, que ainda só acredito quando revejo os corpos destrambelhados, sacudidos pela ventania das alturas, precipitados num vôo sem regresso.
Olho e penso : estás vivo. Neste momento em que te captaram estavas vivo e sabias que estavas no fim. Posso garantir que não precisava desta brutal prova da nossa pequena mortalidade. Reconheço-a há muito, assalta-me constantemente, sei o que me aguarda, lá no fundo dos anos.
O que me fica é a sensação de estupidez.
Uma carreira dentro das noticias e dos acontecimentos, sem perceber que já nos moviamos há muito no 11 de Stembro. Em cada mulher morta à pedrada por setença de macho, em cada cimeira da terra atropelada pelo dinheiro, em cada discurso de cowboy que procura um novo alvo, em cada Argentina que de um momento para o outro esgravata de fome, em cada fome ininterrupta que rasteja pelas Áfricas e Ásias, em cada miudo morto por overdose, apalpado por um padre, espancado em familia.
Se te quiseres lembrar de olhar para a TV, lembra-te de tomar atenção, por exemplo, ao que costumamos chamar conflito israelo-árabe. Lembra-te que está lá desde que te lembras e que muito provavelmente te irá sobreviver.
E faz um esforço para verificar uma lógica contra a qual podes pouco : a melhor maneira de conseguir matar uma dezena ou mais de inimigos é levar uma bomba atada á cintura e abraçá-los num clarão de fogo. Estes homens e mulheres de bombas atadas á cintura, aos comandos de um avião, desafiam as unicas regras que conhecem e , sobretudo, riem-se do teus receios.
O nosso medo alimenta-se do que temos a perder . E contra os que decidem perder a vida para te castigar, podes pouco ou nada. Porque tudo pode acontecer a qualquer momento.
Esta será a lição de pesadelo aos onzes de Setembro.
Esta imensa cobardia mascarada de coragem suprema."

Rodrigo Guedes de Carvalho.
Um ano após o 11 de Setembro

segunda-feira, janeiro 24, 2005

She will be loved

"Beauty queen of only eighteen
She had some trouble with herself
He was always there to help her
She always belonged to someone else

I drove for miles and miles
And wound up at your door
I've had you so many times but somehow
I want more

I don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring rain
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
And she will be loved

Tap on my window, knock on my door
I want to make you feel beautiful
I know I tend to get so insecure
It doesn't matter anymore

It's not always rainbows and butterflies
It's compromise that moves us along
My heart is full and my door's always open
You can come anytime you want

I don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring rain
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
And she will be loved
And she will be loved
And she will be loved

I know where you hide
Alone in your car
Know all of the things that make you who you are
I know that goodbye means nothing at all
Comes back and begs me to catch her every time she falls

Tap on my window, knock on my door
I want to make you feel beautiful

I don't mind spending every day
Out on your corner in the pouring rain, oh
Look for the girl with the broken smile
Ask her if she wants to stay awhile
And she will be loved
And she will be loved
And she will be loved
And she will be loved

Please don't try so hard to say goodbye
Please don't try so hard to say goodbye

I don't mind spending everyday
Out on your corner in the pouring rain

Please don't try so hard to say goodbye"

domingo, janeiro 23, 2005

Passagem de nível

"Depois daquela noite os teus seios incharam,
as tuas ancas alargaram
e os teus parentes admiraram-se
e falaram, falaram
Porque falaram de uma coisa tão bela,
tão simples , tão natural?
Tu não parias uma estrela,
Nem numa noite de vendaval..
Mas tudo terminou porque falaram.
Tu fraquejaste e tudo terminou,
- os teus seios desincharam,
só a tristeza ficou.
Ficou a tristeza de ua coisa tão bela,
tão simples, tão natural...
Tu não parias uma estrela,
Nem uma noite de vendaval."
Passagem de Nivel- Sidónio Muralha

Prende-te á vida.

" Estamos presos á vida e é por isso que construimos caminhos que nos levam até aos sonhos. Um dos atalhos ia dar ao teatro. Metemo-nos a caminho . Tinhamos um cesto cheio de livros e palavras de grandes autores, mas quisemos falar de nós e de vós tambem, dos nossos e dos vossos problemas, das angustias, das alegrias e tristezas.
Porque queremos conversar. Queremos partilhar os nossos sonhos. Estamos acordados, a meio do caminho, a dois passos de tocarmos um sonho!"
Prende-te a vida- peça de teatro do meu 11º ano =)

No title

" Era Verão e as ferias tinham começado há uma semana. Como sempre, estava na Nazaré, na casa da minha avó. Este ano ia ser diferente. Tinha feito 17 anos há poucos dias e finalmente ia poder sair á noite com as minhas primas e os amigos.
Na praia faziamos as parvoices do costume: jogar raquetes, piscar os olhos aos rapazes, contar anedotas, comer gelados. O Paulo era mesmo muito giro. Tinha 19 anos e olhos verdes. Sei lá porquê foi a mim que ele escolheu e eu ia morrendo derretida quando ele me perguntou " Queres namorar comigo?" , como nos filmes antigos e nas novelas . Não era so uma paixão de verão. O Paulo dizia isso todos os dias e quando as férias acabaram e cada um voltou para sua casa, escreviamos, telefonávamos e fim de semana sim, fim de semana não, viajavamos 60 km para nos encontrarmos.
Eu era virgem.Ao fim de quatro meses de namoro já tinhamos "avançado" tanto que resolvi tomar a pilula. Claro que sabiamos que nao podiamos ter um bébé.!
Fizemos amor três vezes. Começaram os exames, o Paulo tinha muito que estudar, cada ez tinhamos menos contacto.
Comecei a entir-me estranha : tinha nauseas, um pouco e febre, estava sempre indisposta.
Fui ao médico, fiz um teste para saber se estava grávida . Não, nao estava. O Paulo telefonou. Tinhamos que falar. Ele tinha feito as pazes com a ex-namorada, era uma história complicada, tinham namorado dois anos, terminaram, andaram com outras pessoas, voltaram,blá blá blá... O Verão acabou definitivamente. E não houve Outono. A transição foi de 40 graus à sombra, aí para uns dez negativos.
Pensava que todo este desconforto fisico que sentia tinha a ver com a devastação emocional provocada pela perda.
As minhas amigas diziam-me que já nao se morre por amor.
Não é verdade. Tenho 32 anos e estou a morrer.
De Sida ou de amor, agora já tanto faz!"