sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Auschwitz, o mal absoluto

" Na madrugada de 27 de Janeiro de 1945, um soldado da Divisão de Infantaria número 322 do exército soviético abria os portões e ficava sem perceber o que tinha diante de si. « Não estava a sonhar, estava perante um morto-vivo. Atrás dele, na escuridão, percebi que havia dezenas de fantasmas.» Yakov Vincenko tinha então 19 anos e quis o destino que fosse ele a descobrir a « entrada para o inferno». Para lá dos portões, encontravam-se mais de sete mil pessoas cujo peso médio rondava os 30 quilos. Eram as últimas provas da «solução final levada a cabo na localidade polaca de Oswiecim, a 60 quilómetros de Cracóvia.
«Alguns tentaram beijar-nos, eram só pele e osso, mal conseguiam manter-se de pé... É impossivel descrever.», tem repetido o antigo sodado, nascido há 79 anos na Ucrânia, a vários órgãos de comunicação de todo o mundo. Durante muito tempo, preferiu apagar da sua memória a experiência de entrar na maior fábrica de morte alguma vez construida pela espécie humana. Hoje, quinta-feira,27, quando participar nas cerimónias oficiais do 60ºaniversário da libertação de Auschwitz - ao lado de personalidades como Vladimir Putine, Jacques Chirac, Horst Koeller, Moshe Katzav, Viktor Yushchenko, Dick Cheney ou Silvio Berlusconi - é bem provável que Yakov Vincenko se lembre das « duas garrafas de vinho do Porto» que encontrou no maior campo de exterminio montado pelos nazis. Foram elas que o ajudaram a iludir as imagens da barbárie: « Mulheres, crianças, doentes. Muitos não se conseguiam sequer mexer-se. Os alemães não tiveram tempo de os matar a todos.» Aos moribundos juntavam-se os cadáveres, as ossadas e as cinzas de milhares de prisioneiros, espalhados por valas comuns, fornos crematórios, câmaras de gás.Naquela madrugada de há seis décadas, os militares do Exército Vermelho foram os primeiros a deparar-se com a dimensão da indústria de exterminio executada pelo III Reich. A entrada principal com o letreiro arbeit mach frei - o trabalho liberta - era muito mais do que um mero campo de concentração. Tratava-se de um complexo onde se aproveitava não apenas mão de obra escrava para a IG Farben, uma das maiores empresas quimicas da Europa, e outras unidades fabris instaladas em Auschwitz, mas que servia sobretudo para o regime hitleriano se desfazer dos « indesejáveis» . Em primeiro lugar os judeus, mas também opositores politicos, deficientes, ciganos e todos os outros que não fossem dignos de integrar a raça ariana. O resultado desta « selecção» e posterior aplicação prática, a endlosung, condenou à morte mais de 5,1 milhões de pessoas.
Uma contabilidade assassina que ainda suscita dúvidas aos chamados negacionistas do Holocausto - ainda este mês , o lider da extrema-direita francesa, Jean Marie Le Pen, voltou a afirmar que o regime nazi « não foi assim tão desumano.» O alemão Oskar Groning, actualmente com 85 anos, conseguiu evitar os demónios do seu passado durante quase meio século. Até ao dia em que teve de ouvir os comentários de um seu camarada das lides filatélicas a propósito de Auschwitz. Que era um disparate o Governo alemão continuar a diabolizar os simbolos nazis ou que era « impossivel» as tropas de Hitler terem morto tanta gente nos campos de concentração e exterminio. O coleccionador de selos e antigo gerente de uma fábrica de gelo perto de Hamburgo achou que era tempo de ajustar contas com a sua juventude e enfrentar a verdade. : « Eu vi as câmaras de gás. Eu vi os crematórios. Eu vi os pelotões de fuzilamento. Eu vi as selecções serem feitas. Acreditem, estas atrocidades aconteceram mesmo porque eu estive lá.»
Num relato impressionante publicado no jornal britânico The Guardian e num documentário exibido pela BBC, Oskar Groning assume aquilo que foi durante a Segunda Guerra Mundia : soldado das SS, destacado em Auschwitz durante dois anos. E confirmou que a barbárie pode não ter limites : o divertimento e as gargalhadas de alguns militares enquanto os corpos dos prisioneiros eram queimados, a cínica gentileza prestada aos recém-chegados para que não desconfiassem do que lhes ia acontecer ou as orquestrar dos campos que tocavam sem parar enquanto os rituais de morte se multiplicavam. Aliás, convém recordar que um dos comandantes de Auschwitz , Josef Kramer, um melómano inveterado que mandou gasear mais de 24 mil pessoas, chorava copiosamentem enquanto ouvia os músicos- forçado a executarem peças de Schumman.

2 comentários:

Sofia disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

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