quinta-feira, fevereiro 15, 2007

[...]" Estrada sem fim. Deixar-se empurrar pela multidão desordenada, deixar-se arrastar pelo destino cego. Quando os SS estavam cansados, eram rendidos. A nós, ninguém nos rendia. Com os membros transidos pelo frio, apesar da corrida, a garganta seca, esfomeados, esfalfados, nós continuávamos.
Éramos os donos da natureza, os donos do mundo. Tínhamos esquecido tudo, a morte, o cansaço, as necessidades fisiológicas. Mais fortes do que o frio e a fome, mais fortes do que os disparos e o desejo de morrer, condenados e vagabundos, simples números, nós éramos os únicos homens sobre a terra.
Por fim a estrela da manhã surgiu no ceú cinzento. Uma vaga claridade começava a apareçer no horizonte. Nós não podíamos mais, estávamos sem forças, sem ilusões." [...]

[...] "Ao voltar da distribuição do pão,encontrei o meu pai a chorar como uma criança:
- Meu filho, eles batem-me!
- Quem?
- Ele, o francês... e o polaco... Eles bateram-me...
Mais uma ferida no coração, um ódio suplementar. Uma razão a menos para viver.
- Eliezer... Eliezer... diz-lhes que não me batam... Eu não fiz nada.. Porque é que eles me batem?" [...]

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